RESPEITO AOS SÓCIOS E AOS TURFISTAS

Na noite da terça-feira, 31 de março, a diretoria do Jockey Club de São Paulo realizou uma Assembleia Geral Ordinária e teve suas contas aprovadas para o último exercício de 2014. Poucos dias antes, publicou uma carta e o balanço patrimonial no seu site oficial, o que suscitou algumas perguntas por parte de um grupo de associados preocupado com a situação de insolvência em que se encontra a centenária entidade.

Entre as questões abordadas, estavam a retenção de prêmios, dívida do IPTU, operações financeiras e administrativas, repetidos atrasos de salários dos funcionários, débitos crescentes com fornecedores e prestadores de serviços como segurança e limpeza, falta de manutenção das instalações e das pistas do Hipódromo Paulistano, perda de receita com os eventos sócio-esportivos e a venda ou cessão de patrimônio, como a Sede da Rua Boa Vista e a Chácara do Jockey. Sócios presentes à assembleia procuraram obter explicações sobre alguns desses pontos cruciais do clube, mas poucos esclarecimentos obtiveram junto à mesa, comandada pelo presidente Eduardo da Rocha Azevedo.

Questionado sobre a necessidade de ter realizado uma assembleia de sócios para decidir sobre a cessão de um valioso bem de seu patrimônio, no caso a Chácara do Ferreira à Prefeitura de São Paulo, ERA apenas disse que “não viu necessidade de fazer isso”, num flagrante desrespeito para com os associados do clube, os criadores, proprietários, profissionais, funcionários e turfistas em geral. O resultado disso todos já sabem: uma negociação feita às pressas, e que até o momento não trouxe resultado algum ao JCSP. Em outra pergunta de um associado referente à área de finanças, informou que o orçamento deste ano será igual ao do ano passado (sic). Como se pode gerir uma atividade sem orçamento? Isto demonstra não existir planejamento, controle e nem planos ou mudanças para corrigir o déficit. Teremos mais um ano de prejuízos? Sem nenhuma ação ou reação?
Segundo o presidente e os informes de seu balanço, a dívida está praticamente solucionada, pois, caso não fossem tomadas as atuais medidas de pagamento – as mesmas que estão sufocando as atividades básicas do turfe paulista – os débitos teriam alcançado a astronômica casa dos R$ 600 milhões. É difícil, para qualquer cidadão, mesmo aquele que não tem conhecimentos financeiros e contábeis, acreditar que uma dívida que estava na casa dos R$ 223 milhões no final da gestão anterior a de ERA, pudesse ter quase triplicado de tamanho. A menos que os gastos tivessem sido produzidos nestes seus quatro anos de administração, apesar da exagerada perda de patrimônio do clube. Convém lembrar do risco, em caso de não pagamento desse parcelamento, de a dívida voltar ao seu elevado valor original. E também, no risco de aumentá-la, desde que passaram-se duas gestões municipais (primeiro Kassab e agora Haddad), e ERA não se aproveitou dos inúmeros contatos feitos por conta do IPTU e da Chácara do Ferreira para negociar um novo plano de pagamento para esse imposto municipal, cobrado hoje sobre a área total do hipódromo e não sobre a área construída, como seria justo.

Portanto, antes de apresentar cartas, balanços, planos mirabolantes que levantarão o turfe paulista em questão de meses (depois de quatro anos de inércia, estagnação e várias promessas não cumpridas...), cabe ao presidente do Jockey Club de São Paulo respeitar as pessoas quando se dirige aos sócios, que pagam uma alta mensalidade para ter pouca entrega do clube; aos criadores e proprietários, que apresentam e bancam o principal ator do espetáculo – o cavalo de corrida; aos profissionais, que mantém em dia a forma dos atletas das pistas; aos dedicados funcionários, que cuidam da administração e do patrimônio centenário; e dos nem sempre lembrados turfistas, que bancam o espetáculo com suas imprescindíveis apostas.

A quem pode interessar essa política de terra arrasada? Ou esse comportamento da diretoria e de seu presidente só vai justificar a adoção de políticas irresponsáveis calcadas principalmente na venda indiscriminada de patrimônio?

 

 

 
 

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